domingo, 22 de maio de 2011

Entrevista com Virginia Barros, presidenta da UEP

Vem chegando um momento de transição no movimento estudantil. Nos próximos meses diversos congressos estaduais do movimento estudantil ocorrerão, elegendo novos estudantes que terão a responsabilidade histórica de manter viva a chama da juventude rebelde! Para acompanhar este momento, este blogueiro entrevistará algumas figuras que fizeram e que farão história nas universidades brasileiras.

A primeira entrevista é com a encantadora e aguerrida pernambucana Virginia Barros. Vic, como é conhecida, termina agora sua gestão à frente da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP). Sua principal vitória como presidenta da UEP foi a conquista da gratuidade na universidade estadual de Pernambuco. Estudante de direito e economia Vic enumera os desafios do movimento estudantil no próximo período e se diz uma otimista com relação ao futuro do país.

Curta a entrevista com a bela guerreira de Tejucupapo.

1- Vic, sua gestão à frente da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP) está chegando ao fim no próximo mês. Conte para nós como foi a experiência de presidir esta histórica entidade do movimento estudantil.

O movimento estudantil é uma das experiências mais ricas que um jovem brasileiro pode viver. Aprendemos muito e todos os dias com as pessoas, as circunstâncias, os debates. No meu caso, foi algo muito desafiador, pois eu já fazia movimento estudantil antes, mas minha militância sempre foi mais restrita ao meu Diretório Acadêmico. Transpor os muros da minha faculdade para entrar em contato com a realidade dos estudantes de todo estado foi um grande choque, então cometi muita mancada até aprender a lidar com algumas situações. Pernambuco é um estado de desigualdades profundas entre as diferentes regiões e cidades e a universidade reflete todas estas contradições, logo, conhecer melhor este ambiente me permitiu ampliar minha visão sobre a educação e o Brasil. Certamente foi uma experiência que levarei por toda a vida.

2- Esta gestão da UEP é reconhecida nacionalmente pelas inúmeras vitórias que conquistou. Qual o balanço que você faz da gestão?

Rapaz, acho que sou a pessoa mais suspeita pra falar, mas faço um balanço positivo! (risos) Na verdade, identifico este sentimento em todos que participaram desta jornada. Toda a atual diretoria da UEP é formada por uma galera muito nova, então foi natural tropeçarmos aqui e acolá, mas, no geral, lideramos os estudantes em mobilizações muito importantes. Fizemos passeatas do litoral ao Sertão - em Arcoverde, Garanhuns, Caruaru, Palmares, Recife... Nas Jornadas Nacionais de Lutas Estudantis, nos meses de Março de 2010 e 2011, foram milhares de estudantes nas ruas reivindicando mais verbas para educação.

Toda essa bagunça boa se soma, claro, à grande conquista da gratuidade daUniversidade de Pernambuco. Esta é a nossa única universidade estadual e a segunda maior do estado e até o final de 2009 ostentava vergonhosamente em seu currículo a cobrança de mensalidade há mais de vinte anos. Então foram várias gerações de estudantes que lutaram pela gratuidade da universidade. Fruto de toda essa luta conseguimos conquistá-la no final de 2009, em um ato grande e emocionado na universidade. Foi um dia histórico para o poder jovem pernambucano, certamente!

3- E, em sua opinião, quais são os desafios da UEP para o próximo período?

Os desafios que estão colocados para os estudantes pernambucanos no próximo período não diferem muito dos que estão colocados para toda a juventude brasileira. Precisamos superar o caráter excludente de nossa universidade, que deixa de fora mais de 80% dos jovens, majoritariamente os filhos da classe trabalhadora. Então é fundamental lutar pela ampliação radical do ensino superior brasileiro. Isso, claro, se manifesta também na luta pelo aumento do financiamento da educação.

Em minha opinião, o debate central que está colocado para o Brasil, e para Pernambuco em especial, é o debate em torno do desenvolvimento da nossa região. Precisamos lutar, portanto, por uma universidade que consiga dar respostas a esses desafios, ampliando vagas, consolidando sua interiorização, investindo em ciência e tecnologia e produzindo conhecimento voltado para a solução dos grandes problemas nacionais.

4- Uma das principais bandeiras do movimento estudantil é o aumento do investimento público em educação para 10% do PIB. A presidenta Dilma Rousseff afirmou recentemente que esta meta não passará de 7% antes de 2020. Como o movimento estudantil atuará para garantir os 10% ?

Vamos ocupar os espaços que por excelência sempre foram nossos: as salas de aula e as ruas! Somente com grandes mobilizações os estudantes conquistarão seus objetivos. Nenhum governo, por mais progressista que fosse, cedeu sem a luta das classes populares. Ampliar radicalmente os investimentos em educação é fundamental para sanarmos esta dívida histórica do Estado com o povo brasileiro. Considero muito acertada a prioridade que a União Nacional dos Estudantes deu à pauta do financiamento da educação nesta última gestão – somente com mais investimento conseguiremos democratizar a universidade, qualificar o ensino básico e erradicar o analfabetismo.

5- Para além das questões relacionadas à educação, como você observa este início de governo Dilma?

A vitória eleitoral de Dilma se deu a partir de alianças com diferentes setores que hoje disputam os rumos do seu governo. Mas se consolidou fundamentalmente com o voto da população mais pobre e é para ela que seus esforços devem se voltar. Desenvolver o Brasil com distribuição de renda é o principal desafio que enxergo.

Infelizmente algumas das primeiras ações do governo caminharam na contramão destas mudanças, com taxas de juros absurdamente elevadas e corte nos investimentos. Entretanto, talvez seja cedo para fazer uma análise mais aprimorada sobre os rumos que o governo irá tomar, até porque também tivemos o anúncio de medidas importantes, como o Pronatec. O fundamental é saber que o rumo final seremos nós que daremos, com pressão para que o governo avance no rumo das mudanças progressistas de que tanto o Brasil necessita. Particularmente, sou bastante otimista.

6- Por fim, qual mensagem você gostaria de deixar para os estudantes de Pernambuco?

Que a juventude não é apenas o futuro, pois também construímos o presente, na luta por uma universidade que se volte para o desenvolvimento do nosso estado. O estudante de hoje tem uma rotina muito diferenciada daquele de 10 anos atrás. No geral, ele passa o dia dividido entre o trabalho e o estágio, vai para a faculdade à noite e só consegue chegar em casa altas horas da noite para já acordar cedo no dia seguinte e começar a jornada outra vez. São estes os jovens que constroem um novo Pernambuco e com muita ousadia exigem melhores condições de trabalho, mais oportunidades de lazer e esporte, mais avanços para a sociedade e que dia após dia transformam sonhos em realidade. Eu acredito muito no potencial da juventude e acho que contribuímos de maneira decisiva para tornar Pernambuco um estado melhor para se viver.

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